Dona Marcolina era uma mulher de presença marcante, de cabelos grisalhos presos em um coque firme e com o semblante sempre sério. Seus olhos, porém, revelavam uma bondade que muitas vezes se escondia por trás de sua postura rigorosa. Ela era conhecida como a “senhora das letras”, a professora que há décadas alfabetizava as crianças do bairro com uma paixão inabalável pela educação.
José Carlos, com apenas cinco anos, entrou pela primeira vez na sala de Dona Marcolina sentindo uma mistura de fascínio e temor. As paredes estavam cobertas com letras e números, e a lousa, já preenchida com uma caligrafia impecável, parecia um mundo inteiro a ser desvendado. Para José Carlos, aquele ambiente novo era intrigante, quase mágico, mas também assustador. Até então, sua vida havia sido o quintal de casa, os sons da natureza, e o colo acolhedor de sua mãe. A escola era um território desconhecido.
Dona Marcolina, com sua firmeza característica, começou o processo de alfabetização como se estivesse desvendando um mistério. Ela sabia que cada criança trazia consigo um mundo único de perguntas e possibilidades, e via na leitura e na escrita a chave para abrir essas portas. José Carlos, embora pequeno e tímido, logo chamou sua atenção. Ele tinha um olhar atento, curioso, e uma facilidade para aprender que Marcolina soube identificar de imediato.
“Vamos lá, José Carlos”, dizia ela em seu tom firme, mas encorajador. “As letras são como amigos, e cada uma tem uma história. Você vai aprender a conversar com elas.” O processo de alfabetização foi, para José Carlos, uma descoberta gradual e emocionante. Cada nova palavra que ele aprendia parecia expandir seu mundo. Em casa, ele corria para mostrar à mãe as primeiras letras que conseguia juntar e, aos poucos, começou a construir pequenas frases. Dona Maria Júlia que sempre acreditou na educação como o maior presente que poderia dar ao filho, acompanhava com orgulho os primeiros passos de José Carlos no mundo das letras.