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Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 17: O Conflito Interno

28 out

A adolescência trouxe a José Carlos um turbilhão de emoções. As expectativas do pai tornavam-se mais pesadas, e o jovem começava a sentir que seu destino estava sendo traçado sem que ele tivesse escolha. A pressão para ingressar na vida militar aumentava a cada dia, e o peso da tradição familiar se abatia sobre ele. Nivaldo já o via com o uniforme verde-oliva, marchando com orgulho. No entanto, José Carlos queria mais. Ele queria explorar o mundo, conhecer culturas diferentes, talvez até se tornar um escritor e contar as histórias que fervilhavam em sua cabeça.

Certa noite, durante um jantar, o assunto se tornou inevitável. Nivaldo começou a falar, mais uma vez, sobre a importância da disciplina, da honra e do futuro brilhante que José Carlos teria se seguisse o caminho militar. O silêncio de José Carlos, no entanto, foi cortante. O jovem, com os olhos fixos no prato, sentia seu coração apertar. Ele amava seu pai, mas não podia seguir um caminho que não era o seu.

“Pai… eu não quero ser militar”, soltou José Carlos, quase em um sussurro, mas firme o suficiente para ser ouvido.

Nivaldo ficou em silêncio por um momento. O clima na mesa tornou-se denso, e Dona Maria Júlia, que até então observava quieta, sentiu o conflito iminente. Ela conhecia o marido, e sabia que as palavras de José Carlos o atingiam profundamente.

“Não quer?” Nivaldo finalmente quebrou o silêncio, sua voz era controlada, mas carregada de desapontamento. “E o que você quer, José Carlos? Ficar sonhando com coisas que não te levarão a lugar nenhum? A vida não é feita de sonhos.”

José Carlos olhou para o pai, com o coração disparado, mas decidido. “Eu quero conhecer o mundo, quero escrever, quero fazer algo diferente.”

As palavras de José Carlos ecoaram pela casa. Nivaldo se levantou da mesa, claramente irritado, e saiu para o quintal, sem dizer mais nada. Dona Maria Júlia permaneceu em silêncio, mas seus olhos transmitiam um misto de compreensão e tristeza. Ela sabia que esse seria apenas o primeiro de muitos embates entre pai e filho.

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.