Arquivo | outubro, 2024

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 5: Lições para a Vida

16 out

O ano de José Carlos sob a tutela de Dona Marcolina passou depressa, mas as lições que ela lhe ensinou permaneceram para sempre. Ela lhe mostrou não apenas como decifrar o mundo das palavras, mas também como enxergar além das limitações de sua cidade. Cada aula de alfabetização era, para José Carlos, uma janela aberta para o mundo. Através das histórias que lia, ele começou a perceber que havia uma vida além dos prédios que o cercava, uma vida cheia de possibilidades.

Dona Marcolina também era uma grande defensora da disciplina, mas de uma forma diferente da que José Carlos experimentava em casa com o pai. Para ela, disciplina não era uma questão de obediência cega, mas de dedicação e persistência. “A leitura exige paciência, José Carlos”, ela dizia, “assim como a vida. Nem tudo vem de imediato. É preciso aprender a esperar e a trabalhar para conquistar o que se deseja.”

José Carlos levou essas palavras consigo, mesmo quando, mais tarde, os conflitos com o pai se intensificaram. Ele sabia que a vida não seria fácil, que traçar seu próprio caminho exigiria coragem e determinação. Mas ele também sabia, graças a Dona Marcolina, que tinha a força necessária para enfrentar esses desafios.

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 3: A Mestra do Começo

15 out

Dona Marcolina era uma mulher de presença marcante, de cabelos grisalhos presos em um coque firme e com o semblante sempre sério. Seus olhos, porém, revelavam uma bondade que muitas vezes se escondia por trás de sua postura rigorosa. Ela era conhecida como a “senhora das letras”, a professora que há décadas alfabetizava as crianças do bairro com uma paixão inabalável pela educação.

José Carlos, com apenas cinco anos, entrou pela primeira vez na sala de Dona Marcolina sentindo uma mistura de fascínio e temor. As paredes estavam cobertas com letras e números, e a lousa, já preenchida com uma caligrafia impecável, parecia um mundo inteiro a ser desvendado. Para José Carlos, aquele ambiente novo era intrigante, quase mágico, mas também assustador. Até então, sua vida havia sido o quintal de casa, os sons da natureza, e o colo acolhedor de sua mãe. A escola era um território desconhecido.

Dona Marcolina, com sua firmeza característica, começou o processo de alfabetização como se estivesse desvendando um mistério. Ela sabia que cada criança trazia consigo um mundo único de perguntas e possibilidades, e via na leitura e na escrita a chave para abrir essas portas. José Carlos, embora pequeno e tímido, logo chamou sua atenção. Ele tinha um olhar atento, curioso, e uma facilidade para aprender que Marcolina soube identificar de imediato.

“Vamos lá, José Carlos”, dizia ela em seu tom firme, mas encorajador. “As letras são como amigos, e cada uma tem uma história. Você vai aprender a conversar com elas.” O processo de alfabetização foi, para José Carlos, uma descoberta gradual e emocionante. Cada nova palavra que ele aprendia parecia expandir seu mundo. Em casa, ele corria para mostrar à mãe as primeiras letras que conseguia juntar e, aos poucos, começou a construir pequenas frases. Dona Maria Júlia que sempre acreditou na educação como o maior presente que poderia dar ao filho, acompanhava com orgulho os primeiros passos de José Carlos no mundo das letras.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 2: A Relação com Joice

13 out

Desde que José Carlos conseguia se lembrar, sua irmã Joice sempre esteve ao seu lado. Eles eram inseparáveis na infância, apesar de serem tão diferentes em personalidade. Joice, três anos mais nova, era a luz radiante que iluminava a casa, com seu sorriso fácil, apesar de seu jeito introvertido. José Carlos fazia amizades com facilidade, ria alto, e nunca perdia a oportunidade de contar uma história engraçada ou de engajar todos à sua volta em uma boa conversa. Ele era carismático, o que o tornava popular entre seus colegas, seja na escola ou na vizinhança. Joice tinha uma habilidade única de trazer leveza aos momentos mais pesados da vida de José Carlos. Quando ele se perdia em seus pensamentos sobre o futuro, era Joice quem aparecia com uma piada ou um convite inesperado para uma caminhada pela vizinhança. Ela tinha um jeito natural de lembrar a José Carlos que havia mais na vida do que estudos e responsabilidades, impostos pelo pai.

Na infância, os dois costumavam brincar juntos na pequena casa em que moravam. Com a cidade agitada ao redor, os momentos no quintal eram um refúgio para os irmãos. Criavam mundos imaginários e inventavam jogos que só faziam sentido para eles. Joice, sempre criativa, liderava as brincadeiras, enquanto José Carlos, tentava organizar as regras. Essa dinâmica, que os mantinha unidos quando crianças, era um reflexo de como continuariam se equilibrando à medida que crescessem.

Durante os anos em que José Carlos se dedicava ao curso técnico e passava a maior parte do tempo no alojamento da escola no interior de Minas Gerais, Joice também enfrentava seus próprios desafios. Ela estava no ensino fundamental, lidando com as dificuldades da adolescência, mas, sempre que José Carlos voltava para casa nos períodos de férias, ela o recebia com a mesma alegria de sempre. Os dois se sentavam para conversar, e Joice, como sempre, queria saber de tudo: “E aí, José Carlos, como foram as aulas? O que você aprendeu de novo? E os seus amigos, como estão?”

O que fortalecia ainda mais o relacionamento deles era o respeito mútuo. Mesmo com personalidades tão distintas, eles sempre souberam que podiam contar um com o outro. Joice era o alívio leve que José Carlos precisava para não se afogar nas responsabilidades, enquanto ele era o porto seguro que ela sempre procurava quando se sentia perdida.

Conforme ambos amadureciam, essa cumplicidade só se tornava mais forte. Ainda que o tempo os levasse por caminhos diferentes, o laço entre eles permanecia inquebrável. Joice seguia seu caminho com a mesma determinação e espírito livre que a definiam desde pequena, enquanto José Carlos continuava seu trajeto disciplinado, mas sempre sabendo que, em momentos de dificuldade, sua irmã estaria ali, pronta para lembrá-lo de que a vida é mais do que seguir regras. É também sobre viver com intensidade e paixão, algo que Joice, com seu brilho único, nunca deixava que ele esquecesse.

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos

12 out

Depois de um longo período longe das redes para cuidar da saúde, resolvi, que a partir de hoje, iniciarei a publicação de um romance; um capítulo por dia! Escolhi o dia 12 de outubro para começar essa jornada, pois essa data tem um significado muito especial em minha vida. A cada dia, vocês acompanharão uma nova parte dessa história, cheia de emoção, desafios, momentos marcantes e revelações incríveis. Espero que se encantem e se envolvam com os personagens tanto quanto eu! Fiquem atentos para acompanhar o desenrolar dessa trama que promete surpreender.

A obra é ficcional. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos

Capítulo 1: Um Novo Horizonte

Em uma cidade cercada por intensa movimentação, nasceu José Carlos. A cidade de Seropédica, localizada na Baixada Fluminense era marcada, já naquela época, pelo caos e a agitação. A cidade parecia viver em uma eterna corrida contra o tempo, com ruas estreitas abarrotadas de carros velhos soltando fumaça e ônibus apinhados de gente. Não havia nada de sereno em Seropédica, e a paisagem urbana era marcada por construções antigas, desgastadas pelo tempo e pelo descaso. O som constante de buzinas, o eco dos motores e o movimento incessante de pessoas indo e vindo faziam parte da rotina.

José Carlos, que havia crescido ali, não se surpreendia mais com o ambiente ao seu redor. Desde cedo, ele havia aprendido que Seropédica era um lugar onde as pessoas viviam com pressa, onde o concreto dominava e os prédios mal cuidados se misturavam com fábricas que lançavam fumaça negra no céu, tingindo o horizonte de um cinza permanente. Não havia espaço para o encanto ou para o deslumbramento. A realidade de Seropédica era dura, implacável.

Seu pai, Nivaldo, era um homem sério e disciplinado, um militar do Exército que trazia a rigidez do quartel para dentro de casa. Ele vestia o uniforme com orgulho e, para ele, a ordem e a honra eram os pilares de uma vida digna. Nivaldo vinha de uma longa linha de militares, e esperava que seu filho seguisse os mesmos passos. José Carlos, por outro lado, não compartilhava dos mesmos sonhos. Mesmo pequeno, ele já nutria uma paixão diferente, algo que nem ele mesmo conseguia explicar, mas que o levava a sonhar com mundos além da agitação que cercava sua cidade.

Dona Maria Júlia, a mãe de José Carlos, era o completo oposto de Nivaldo. Dona de casa dedicada, ela trazia um ar de leveza e tranquilidade ao lar. Sua vida se resumia em cuidar da família, mas, ao contrário de seu marido, não impunha grandes expectativas sobre o filho. Para ela, o importante era que José Carlos fosse feliz. Maria Júlia conhecia o marido como ninguém, sabia que a rigidez que ele trazia era fruto de sua própria criação, de uma vida dura, marcada por poucas oportunidades e uma responsabilidade que desde cedo lhe foi imposta.