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Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 34: As Histórias do Alojamento

12 nov

Durante as noites comuns no alojamento, o clima era geralmente de foco e estudo. José Carlos e seus colegas passavam longas horas se debruçando sobre livros, apostilas e diagramas de circuitos. A rotina era rígida, especialmente nos períodos mais intensos do curso, mas nem tudo era tão sério assim. Entre os estudantes, existiam momentos de descontração que iam além das conversas no jardim ou dos jogos de futebol nos fins de semana. Na verdade, havia um segredo bem guardado entre os rapazes: as escapadas noturnas para a piscina da escola.

A piscina ficava nos fundos do complexo da escola, perto dos laboratórios, e era usada oficialmente apenas durante as aulas de educação física ou eventos especiais. Fora desses momentos, ela ficava fechada e, claro, não era permitido acessá-la à noite. Mas José Carlos, Ricardo, André e Felipe não se intimidavam com as regras. Foi Felipe, sempre o mais ousado do grupo, quem primeiro teve a ideia de “dar um mergulho” após o horário permitido.

“Ei, o que vocês acham de darmos uma nadada hoje à noite? Ninguém vai saber,” sugeriu Felipe uma noite, com um sorriso malicioso no rosto.

“Você tá louco?”, respondeu Ricardo, rindo, mas já interessado na ideia. “Se o vigia pegar a gente, estamos ferrados!”

Mas a ideia já havia sido plantada, e a possibilidade de quebrar a rotina cansativa com um pouco de diversão clandestina era tentadora demais para ser ignorada. Depois de algumas semanas de planejamento cuidadoso e observação dos movimentos do vigia noturno, eles estavam prontos para a primeira aventura.

A estratégia era simples: esperariam até que o vigia, o Sr. Figueira, fizesse sua ronda habitual pelo prédio do alojamento. Ele sempre passava pelo corredor principal por volta das 11 da noite, conferindo se os alunos estavam nos quartos e se tudo estava em ordem. José Carlos e os outros haviam notado que, depois dessa ronda, Figueira costumava tirar um cochilo em sua sala até mais ou menos meia-noite, o que deixava uma janela de oportunidade.

Naquela noite, quando ouviram os passos lentos e firmes de Figueira no corredor, os quatro se entreolharam. Estavam prontos. Ricardo, que era o mais ágil do grupo, foi encarregado de espiar pela porta, confirmando que o caminho estava livre. Quando o som dos passos finalmente desapareceu, eles saíram em silêncio, fechando a porta do quarto atrás de si.

“Vamos logo antes que ele volte,” sussurrou Felipe, liderando o grupo pelos corredores escuros.

O caminho até a piscina não era longo, mas exigia cuidado. Eles tinham que atravessar uma área externa onde, em dias de evento, costumava ter movimentação intensa. Mas àquela hora, o silêncio era absoluto. O único barulho que ouviam era o som de seus próprios passos, abafados pela grama. Quando finalmente chegaram ao portão da piscina, José Carlos se agachou para verificar se não havia ninguém à vista.

“O portão tá trancado, como vamos entrar?” perguntou André, meio nervoso.

Felipe, sempre preparado, tirou do bolso uma chave que ele havia “conseguido” emprestada de um assistente da escola que cuidava da manutenção. Com um clique rápido, o portão se abriu e os quatro rapazes escorregaram para dentro da área da piscina.

O ar fresco da noite e o reflexo das estrelas na água deixavam o ambiente quase mágico. Sem perder tempo, eles tiraram as roupas e pularam na piscina, um a um, tentando manter o máximo de silêncio possível. O impacto da água fria os fez soltar exclamações abafadas, mas logo o desconforto inicial deu lugar à excitação. Eles estavam sozinhos, livres, nadando sob as estrelas.

“Isso é o melhor que já fizemos desde que chegamos aqui,” disse Ricardo, sorrindo enquanto flutuava de costas na água. “Não acredito que conseguimos!”

O clima de aventura deixou todos eufóricos. Eles nadaram, riram e até brincaram de pegar objetos no fundo da piscina, como se fossem crianças em férias, sem a pressão das provas ou dos projetos técnicos pairando sobre suas cabeças.

Mas a diversão não vinha sem riscos. Em uma das noites de aventura, enquanto estavam na água, ouviram um barulho que congelou todos instantaneamente: o som inconfundível de passos se aproximando. O coração de José Carlos disparou. Eles haviam ficado tempo demais, e o vigia estava voltando.

“Merda, o Figueira tá vindo!” sussurrou Felipe, com os olhos arregalados.

Todos saíram da água o mais rápido possível, lutando para não fazer barulho ao saírem da piscina. Pegaram suas roupas e correram para trás de um pequeno galpão de equipamentos ao lado da piscina, tentando se esconder. Ficaram agachados, molhados e encharcados, enquanto o vigia caminhava lentamente ao redor da área, sua lanterna iluminando o chão próximo à água.

“Será que ele vai descobrir que a gente estava aqui?” perguntou André, tremendo de nervosismo.

“Fiquem quietos,” respondeu José Carlos, mantendo os olhos no vigia.

Depois de alguns minutos que pareceram uma eternidade, o Sr. Figueira, aparentemente satisfeito de que tudo estava em ordem, continuou sua ronda em direção a outro setor da escola. Só então os quatro rapazes soltaram o ar, aliviados.

“Essa foi por pouco,” disse Ricardo, rindo nervoso. “Mas foi incrível!”

Com o coração ainda acelerado pela adrenalina, eles vestiram as roupas rapidamente e voltaram para o alojamento, ainda molhados, mas se sentindo vitoriosos. Quando finalmente fecharam a porta do quarto atrás de si, caíram na gargalhada. Aquela havia sido, sem dúvida, uma das noites mais memoráveis.

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.