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Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 22: A Espera e o Resultado

1 nov

Os dias que seguiram o vestibular foram repletos de ansiedade. José Carlos tentava se concentrar nas aulas da escola regular, mas sua mente voltava sempre àquele dia, àquelas questões. Ele sabia que havia dado o seu melhor, mas a dúvida o corroía. E se não fosse suficiente? O que ele faria? Voltar ao caminho militar que seu pai desejava parecia cada vez mais distante de seus sonhos.

Finalmente, o dia do resultado chegou. José Carlos e Thiago foram juntos para conferir a lista de aprovados. O coração de José Carlos batia acelerado enquanto eles se aproximavam do mural onde os nomes estavam expostos. O lugar estava cheio de outros estudantes, todos ansiosos como eles. Quando chegou a sua vez de olhar, José Carlos prendeu a respiração.

Seu nome estava lá. Ele havia passado.

O alívio tomou conta de seu corpo, seguido por uma onda de emoção que ele não pôde conter. Thiago também havia sido aprovado, e os dois se abraçaram, comemorando o resultado de meses de dedicação e sacrifício. Aquele momento marcou o início de uma nova fase para José Carlos. Ele sabia que o caminho não seria fácil, mas agora ele estava um passo mais perto de seus sonhos.

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 20: A Preparação Intensa

30 out

O vestibular para a Escola Técnica não era fácil. O colégio era conhecido por ser altamente competitivo, atraindo estudantes de todo país. As provas envolviam uma combinação de matérias que exigiam tanto raciocínio lógico quanto uma base sólida em ciências e conhecimentos gerais, áreas que José Carlos já dominava, mas sabia que precisaria intensificar seus estudos se quisesse ter chances.

Determinado a passar, José Carlos montou um plano de estudos rigoroso. Dividia seu tempo entre a escola regular e as revisões para o vestibular. Thiago, que também estava estudando para a mesma prova, tornou-se seu companheiro de jornada. Eles passavam horas na biblioteca, alternando entre os livros de eletrônica e as apostilas de matemática avançada. Enquanto os amigos começavam a explorar a adolescência com festas e distrações, José Carlos se isolava cada vez mais em seu mundo de números, textos, circuitos e fórmulas.

Os meses de preparação não foram fáceis. A pressão vinha de todos os lados. Seu pai continuava a questioná-lo sobre o Colégio Militar, sugerindo que a eletrônica poderia ser um caminho instável, enquanto sua mãe, Maria Júlia, fazia o possível para apoiar o filho sem entrar em conflito com Nivaldo. A tensão dentro de casa era constante, e José Carlos sentia o peso de ser o primeiro a querer trilhar um caminho diferente dos valores tradicionais de sua família.

Certa noite, depois de uma discussão mais acalorada com seu pai sobre o futuro, José Carlos foi até o quintal de sua casa e ficou observando as estrelas. Ele pensava sobre o que queria para si mesmo. Sabia que a eletrônica lhe dava a oportunidade de seguir algo que lhe garantisse uma profissão, mas ao mesmo tempo não era exatamente o que ele tinha sonhado. O preço emocional era alto.

“Será que estou fazendo a escolha certa?”, ele se perguntava, olhando para o céu. “Ou estou apenas fugindo do que esperam de mim?”

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 17: O Conflito Interno

28 out

A adolescência trouxe a José Carlos um turbilhão de emoções. As expectativas do pai tornavam-se mais pesadas, e o jovem começava a sentir que seu destino estava sendo traçado sem que ele tivesse escolha. A pressão para ingressar na vida militar aumentava a cada dia, e o peso da tradição familiar se abatia sobre ele. Nivaldo já o via com o uniforme verde-oliva, marchando com orgulho. No entanto, José Carlos queria mais. Ele queria explorar o mundo, conhecer culturas diferentes, talvez até se tornar um escritor e contar as histórias que fervilhavam em sua cabeça.

Certa noite, durante um jantar, o assunto se tornou inevitável. Nivaldo começou a falar, mais uma vez, sobre a importância da disciplina, da honra e do futuro brilhante que José Carlos teria se seguisse o caminho militar. O silêncio de José Carlos, no entanto, foi cortante. O jovem, com os olhos fixos no prato, sentia seu coração apertar. Ele amava seu pai, mas não podia seguir um caminho que não era o seu.

“Pai… eu não quero ser militar”, soltou José Carlos, quase em um sussurro, mas firme o suficiente para ser ouvido.

Nivaldo ficou em silêncio por um momento. O clima na mesa tornou-se denso, e Dona Maria Júlia, que até então observava quieta, sentiu o conflito iminente. Ela conhecia o marido, e sabia que as palavras de José Carlos o atingiam profundamente.

“Não quer?” Nivaldo finalmente quebrou o silêncio, sua voz era controlada, mas carregada de desapontamento. “E o que você quer, José Carlos? Ficar sonhando com coisas que não te levarão a lugar nenhum? A vida não é feita de sonhos.”

José Carlos olhou para o pai, com o coração disparado, mas decidido. “Eu quero conhecer o mundo, quero escrever, quero fazer algo diferente.”

As palavras de José Carlos ecoaram pela casa. Nivaldo se levantou da mesa, claramente irritado, e saiu para o quintal, sem dizer mais nada. Dona Maria Júlia permaneceu em silêncio, mas seus olhos transmitiam um misto de compreensão e tristeza. Ela sabia que esse seria apenas o primeiro de muitos embates entre pai e filho.

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 16: Reflexões de um Adolescente

27 out

No final da 8ª série, José Carlos estava à beira de uma encruzilhada. Ele sabia que seu destino não estava em Seropédica, nem nos quartéis que seu pai tanto admirava. Como ele poderia convencer o pai de que queria trilhar outro rumo? Como ele poderia escapar da tradição familiar e se lançar em direção a um futuro ainda indefinido?

Enquanto José Carlos refletia sobre essas questões, ele também sabia que o fim do ginásio marcava o início de uma nova jornada. Uma jornada cheia de desafios, mas também repleta de possibilidades.

A amizade com Thiago, as influências de professores como Dona Celina e seu Eugênio, e o apoio silencioso de sua mãe, davam a José Carlos a força necessária para acreditar em seu próprio potencial. E ele sabia que, independentemente das dificuldades que surgissem, estava disposto a lutar pelos seus sonhos.

A vida no ginásio havia sido um período de crescimento e amadurecimento. Agora, José Carlos estava pronto para dar o próximo passo, ciente de que o mundo era maior do que ele jamais imaginara.

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 13: Entre Sonhos e Pressões

24 out

Na 6ª série, José Carlos começou a enfrentar a dura realidade das expectativas familiares. Nivaldo, seu pai, era agora ainda mais insistente em que o filho seguisse o caminho militar. As conversas em casa, sempre pontuadas por regras rígidas e a necessidade de disciplina, começaram a pesar sobre José Carlos. Seu pai falava constantemente sobre a vida no Exército, e de como José Carlos deveria seguir seus passos para ter uma carreira segura e respeitável.

Por outro lado, a mãe de José Carlos, Maria Júlia, permanecia sendo sua maior apoiadora nos estudos. Ela via nos olhos do filho o desejo de algo maior, e, discretamente, o incentivava a explorar seus interesses, mesmo que isso o afastasse do caminho militar que Nivaldo tanto desejava. Ela o encorajava a ler, a questionar, e acima de tudo, a ser fiel a si mesmo.

Nesse período, José Carlos começou a se dividir entre dois mundos: o de suas aspirações acadêmicas e criativas, e o das expectativas familiares. As conversas sobre futuro eram cada vez mais tensas, mas José Carlos continuava determinado a explorar seu próprio caminho.

Foi também nesse ano que ele começou a se destacar em redação, nas aulas de português com a professora Dona Celina. Ela notou o talento natural de José Carlos para contar histórias e incentivava seus alunos a escrever redações mais complexas, explorando temas sociais e filosóficos. Dona Celina dava a liberdade para José Carlos se expressar, e isso o ajudava a lidar com o peso das cobranças de casa.

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

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Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 10: Amadurecimento e Reflexão na 4ª Série

21 out

Na 4ª série, José Carlos já era visto como um dos alunos mais promissores da escola. Sua dedicação aos estudos e sua habilidade com as palavras o faziam se destacar. No entanto, ao mesmo tempo, ele começou a sentir o peso das expectativas. Seu pai, Nivaldo, cada vez mais pressionava o garoto a seguir uma trajetória militar, enquanto suas professoras e sua mãe o incentivavam a buscar o caminho da educação.

A professora da 4ª série, Dona Sônia, foi uma das maiores influências em sua vida escolar. Ela era uma mulher jovem e cheia de energia, com uma visão ampla sobre o papel da educação. Para ela, a escola não era apenas um lugar onde se aprendia matérias, mas um espaço de formação para a vida. Dona Sônia incentivava seus alunos a pensar criticamente, a questionar o mundo ao redor deles e a buscar o conhecimento por conta própria.

Com ela, José Carlos aprendeu a arte da reflexão. As aulas de redação tornaram-se um espaço onde ele podia explorar não apenas histórias fictícias, mas também suas próprias ideias sobre o mundo. Ele escrevia sobre sua cidade, sobre os sonhos que tinha de viajar, sobre o desejo de escapar do destino que parecia traçado para ele. Dona Sônia lia com atenção cada uma de suas redações e sempre incentivava José Carlos a ir além.

“Você tem um olhar especial sobre o mundo, José Carlos. Nunca perca isso”, ela lhe disse certa vez, entregando-lhe de volta uma redação cheia de elogios. “Escrever é uma maneira de entender quem somos e o que queremos.”

Esse ano foi um ponto de virada para José Carlos. Ele começou a perceber que, embora respeitasse a tradição militar de sua família e amasse seu pai, seus sonhos eram diferentes. A pressão para seguir a carreira militar estava sempre presente, mas ele sabia, no fundo, que seu futuro passava por outros caminhos, talvez longe dos prédios de Seropédica.

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

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Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 8: O Fascínio Pela Leitura na 2ª Série

19 out

Na 2ª série, a curiosidade de José Carlos se transformou em uma verdadeira paixão pela leitura. Ele passava horas imerso nos livros que pegava emprestados da pequena biblioteca da escola. Lia de tudo: histórias de aventura, contos de fadas, mitologia. Cada novo livro era uma aventura, uma fuga dos prédios que cercavam Seropédica. Enquanto seus colegas começavam a se interessar por jogos e atividades mais físicas, José Carlos preferia as companhias silenciosas das histórias e das ideias.

A professora da 2ª série, Dona Lurdes, percebeu o talento de José Carlos para escrever. Ela incentivava seus alunos a criar pequenas redações, e José Carlos logo se destacava, escrevendo histórias cheias de detalhes e emoção. Sua imaginação corria solta. Ele escrevia sobre cavaleiros, mundos distantes, e criaturas mágicas, todas inspiradas pelas leituras que fazia. Dona Lurdes ficou impressionada com a capacidade de José Carlos de criar personagens tão complexos, mesmo com sua pouca idade.

“Você tem um dom, José Carlos “, ela lhe disse uma tarde. “Nunca pare de escrever. Suas histórias podem levar você a lugares que você nem imagina.”

Essas palavras ficaram gravadas na mente do garoto. Embora sua vida em Seropédica fosse previsível e limitada, ele sabia que, através das palavras, poderia alcançar o mundo.

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 7: Os Primeiros Sonhos

18 out

Depois de ser alfabetizado por Dona Marcolina, José Carlos ingressou na 1ª série cheio de curiosidade e ansioso por mais descobertas. Embora a sala de aula fosse pequena e simples, com cadeiras de madeira gastas e uma lousa antiga, para ele aquele ambiente representava um mundo de possibilidades. A escola de Seropédica, embora modesta, era o lugar onde ele podia se perder nas palavras e nas histórias, ampliando seu universo a cada página virada.

O primeiro ano foi um período de adaptação. José Carlos, com sua natureza observadora, rapidamente se destacava por sua sede de aprender. Enquanto muitos de seus colegas viam os estudos como uma obrigação imposta pelos pais, para ele, os livros eram uma porta aberta para mundos novos. O caderno com as primeiras letras rabiscadas logo foi preenchido com pequenas frases, e José Carlos passava mais tempo na biblioteca da escola do que nos intervalos de brincadeiras.

A professora da 1ª série, Dona Lúcia, era uma mulher gentil e paciente. Ela percebeu rapidamente a facilidade que José Carlos tinha para as palavras, e, embora gostasse de incentivar todos os alunos, reservava sempre um tempo extra para dar a José Carlos livros mais complexos, desafiando sua imaginação. Dona Lúcia frequentemente elogiava a curiosidade do menino, sempre o incentivando a explorar novos conhecimentos.

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 6: Primeiros Passos na Jornada Escolar

18 out

José Carlos crescia correndo pelas ruas de Seropédica, sempre descalço, com os cabelos despenteados e os olhos brilhando de curiosidade. Ao contrário dos outros meninos que admiravam a vida militar, o uniforme impecável e as histórias de batalhas que seu pai contava, José Carlos se interessava pelo céu, pelas estrelas, pelo vento que balançava as árvores. Passava horas deitado no quintal, observando o movimento das nuvens e sonhando com lugares distantes. Seu mundo era feito de fantasias, de histórias que ele criava e recontava a si mesmo enquanto olhava para o horizonte.

Na escola, José Carlos era um aluno curioso. Embora não fosse o mais aplicado em matemática ou inglês, as aulas de literatura eram seu refúgio. Ele se encantava com as histórias de aventuras, de heróis que cruzavam terras desconhecidas, e imaginava que um dia poderia viver algo assim. Sua professora da primeira série, Dona Lúcia, notava esse brilho diferente nos olhos de José Carlos, e embora soubesse das expectativas de Nivaldo para o filho, ela incentivava o menino a nunca parar de sonhar.

“Você pode ser o que quiser, José Carlos”, dizia Dona Lúcia, sempre com um sorriso. “O mundo lá fora é grande, e seus sonhos são sua bússola.”

Mas em casa, a realidade era diferente. Nivaldo ficava cada vez mais impaciente com o comportamento “sonhador” do filho. Ele queria ver em José Carlos o mesmo compromisso que ele havia assumido desde cedo com a pátria, com a disciplina. A cada ano que passava, as conversas sobre o futuro de José Carlos tornavam-se mais sérias. Aos 10 anos, Nivaldo já falava de colégios militares, de treinamentos e de responsabilidades. José Carlos, no entanto, sentia-se sufocado, como se os prédios ao redor de Seropédica o estivessem aprisionando.

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 5: Lições para a Vida

16 out

O ano de José Carlos sob a tutela de Dona Marcolina passou depressa, mas as lições que ela lhe ensinou permaneceram para sempre. Ela lhe mostrou não apenas como decifrar o mundo das palavras, mas também como enxergar além das limitações de sua cidade. Cada aula de alfabetização era, para José Carlos, uma janela aberta para o mundo. Através das histórias que lia, ele começou a perceber que havia uma vida além dos prédios que o cercava, uma vida cheia de possibilidades.

Dona Marcolina também era uma grande defensora da disciplina, mas de uma forma diferente da que José Carlos experimentava em casa com o pai. Para ela, disciplina não era uma questão de obediência cega, mas de dedicação e persistência. “A leitura exige paciência, José Carlos”, ela dizia, “assim como a vida. Nem tudo vem de imediato. É preciso aprender a esperar e a trabalhar para conquistar o que se deseja.”

José Carlos levou essas palavras consigo, mesmo quando, mais tarde, os conflitos com o pai se intensificaram. Ele sabia que a vida não seria fácil, que traçar seu próprio caminho exigiria coragem e determinação. Mas ele também sabia, graças a Dona Marcolina, que tinha a força necessária para enfrentar esses desafios.

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 3: A Mestra do Começo

15 out

Dona Marcolina era uma mulher de presença marcante, de cabelos grisalhos presos em um coque firme e com o semblante sempre sério. Seus olhos, porém, revelavam uma bondade que muitas vezes se escondia por trás de sua postura rigorosa. Ela era conhecida como a “senhora das letras”, a professora que há décadas alfabetizava as crianças do bairro com uma paixão inabalável pela educação.

José Carlos, com apenas cinco anos, entrou pela primeira vez na sala de Dona Marcolina sentindo uma mistura de fascínio e temor. As paredes estavam cobertas com letras e números, e a lousa, já preenchida com uma caligrafia impecável, parecia um mundo inteiro a ser desvendado. Para José Carlos, aquele ambiente novo era intrigante, quase mágico, mas também assustador. Até então, sua vida havia sido o quintal de casa, os sons da natureza, e o colo acolhedor de sua mãe. A escola era um território desconhecido.

Dona Marcolina, com sua firmeza característica, começou o processo de alfabetização como se estivesse desvendando um mistério. Ela sabia que cada criança trazia consigo um mundo único de perguntas e possibilidades, e via na leitura e na escrita a chave para abrir essas portas. José Carlos, embora pequeno e tímido, logo chamou sua atenção. Ele tinha um olhar atento, curioso, e uma facilidade para aprender que Marcolina soube identificar de imediato.

“Vamos lá, José Carlos”, dizia ela em seu tom firme, mas encorajador. “As letras são como amigos, e cada uma tem uma história. Você vai aprender a conversar com elas.” O processo de alfabetização foi, para José Carlos, uma descoberta gradual e emocionante. Cada nova palavra que ele aprendia parecia expandir seu mundo. Em casa, ele corria para mostrar à mãe as primeiras letras que conseguia juntar e, aos poucos, começou a construir pequenas frases. Dona Maria Júlia que sempre acreditou na educação como o maior presente que poderia dar ao filho, acompanhava com orgulho os primeiros passos de José Carlos no mundo das letras.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 2: A Relação com Joice

13 out

Desde que José Carlos conseguia se lembrar, sua irmã Joice sempre esteve ao seu lado. Eles eram inseparáveis na infância, apesar de serem tão diferentes em personalidade. Joice, três anos mais nova, era a luz radiante que iluminava a casa, com seu sorriso fácil, apesar de seu jeito introvertido. José Carlos fazia amizades com facilidade, ria alto, e nunca perdia a oportunidade de contar uma história engraçada ou de engajar todos à sua volta em uma boa conversa. Ele era carismático, o que o tornava popular entre seus colegas, seja na escola ou na vizinhança. Joice tinha uma habilidade única de trazer leveza aos momentos mais pesados da vida de José Carlos. Quando ele se perdia em seus pensamentos sobre o futuro, era Joice quem aparecia com uma piada ou um convite inesperado para uma caminhada pela vizinhança. Ela tinha um jeito natural de lembrar a José Carlos que havia mais na vida do que estudos e responsabilidades, impostos pelo pai.

Na infância, os dois costumavam brincar juntos na pequena casa em que moravam. Com a cidade agitada ao redor, os momentos no quintal eram um refúgio para os irmãos. Criavam mundos imaginários e inventavam jogos que só faziam sentido para eles. Joice, sempre criativa, liderava as brincadeiras, enquanto José Carlos, tentava organizar as regras. Essa dinâmica, que os mantinha unidos quando crianças, era um reflexo de como continuariam se equilibrando à medida que crescessem.

Durante os anos em que José Carlos se dedicava ao curso técnico e passava a maior parte do tempo no alojamento da escola no interior de Minas Gerais, Joice também enfrentava seus próprios desafios. Ela estava no ensino fundamental, lidando com as dificuldades da adolescência, mas, sempre que José Carlos voltava para casa nos períodos de férias, ela o recebia com a mesma alegria de sempre. Os dois se sentavam para conversar, e Joice, como sempre, queria saber de tudo: “E aí, José Carlos, como foram as aulas? O que você aprendeu de novo? E os seus amigos, como estão?”

O que fortalecia ainda mais o relacionamento deles era o respeito mútuo. Mesmo com personalidades tão distintas, eles sempre souberam que podiam contar um com o outro. Joice era o alívio leve que José Carlos precisava para não se afogar nas responsabilidades, enquanto ele era o porto seguro que ela sempre procurava quando se sentia perdida.

Conforme ambos amadureciam, essa cumplicidade só se tornava mais forte. Ainda que o tempo os levasse por caminhos diferentes, o laço entre eles permanecia inquebrável. Joice seguia seu caminho com a mesma determinação e espírito livre que a definiam desde pequena, enquanto José Carlos continuava seu trajeto disciplinado, mas sempre sabendo que, em momentos de dificuldade, sua irmã estaria ali, pronta para lembrá-lo de que a vida é mais do que seguir regras. É também sobre viver com intensidade e paixão, algo que Joice, com seu brilho único, nunca deixava que ele esquecesse.

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos

12 out

Depois de um longo período longe das redes para cuidar da saúde, resolvi, que a partir de hoje, iniciarei a publicação de um romance; um capítulo por dia! Escolhi o dia 12 de outubro para começar essa jornada, pois essa data tem um significado muito especial em minha vida. A cada dia, vocês acompanharão uma nova parte dessa história, cheia de emoção, desafios, momentos marcantes e revelações incríveis. Espero que se encantem e se envolvam com os personagens tanto quanto eu! Fiquem atentos para acompanhar o desenrolar dessa trama que promete surpreender.

A obra é ficcional. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos

Capítulo 1: Um Novo Horizonte

Em uma cidade cercada por intensa movimentação, nasceu José Carlos. A cidade de Seropédica, localizada na Baixada Fluminense era marcada, já naquela época, pelo caos e a agitação. A cidade parecia viver em uma eterna corrida contra o tempo, com ruas estreitas abarrotadas de carros velhos soltando fumaça e ônibus apinhados de gente. Não havia nada de sereno em Seropédica, e a paisagem urbana era marcada por construções antigas, desgastadas pelo tempo e pelo descaso. O som constante de buzinas, o eco dos motores e o movimento incessante de pessoas indo e vindo faziam parte da rotina.

José Carlos, que havia crescido ali, não se surpreendia mais com o ambiente ao seu redor. Desde cedo, ele havia aprendido que Seropédica era um lugar onde as pessoas viviam com pressa, onde o concreto dominava e os prédios mal cuidados se misturavam com fábricas que lançavam fumaça negra no céu, tingindo o horizonte de um cinza permanente. Não havia espaço para o encanto ou para o deslumbramento. A realidade de Seropédica era dura, implacável.

Seu pai, Nivaldo, era um homem sério e disciplinado, um militar do Exército que trazia a rigidez do quartel para dentro de casa. Ele vestia o uniforme com orgulho e, para ele, a ordem e a honra eram os pilares de uma vida digna. Nivaldo vinha de uma longa linha de militares, e esperava que seu filho seguisse os mesmos passos. José Carlos, por outro lado, não compartilhava dos mesmos sonhos. Mesmo pequeno, ele já nutria uma paixão diferente, algo que nem ele mesmo conseguia explicar, mas que o levava a sonhar com mundos além da agitação que cercava sua cidade.

Dona Maria Júlia, a mãe de José Carlos, era o completo oposto de Nivaldo. Dona de casa dedicada, ela trazia um ar de leveza e tranquilidade ao lar. Sua vida se resumia em cuidar da família, mas, ao contrário de seu marido, não impunha grandes expectativas sobre o filho. Para ela, o importante era que José Carlos fosse feliz. Maria Júlia conhecia o marido como ninguém, sabia que a rigidez que ele trazia era fruto de sua própria criação, de uma vida dura, marcada por poucas oportunidades e uma responsabilidade que desde cedo lhe foi imposta.