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Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 41: Um Novo Caminho

24 nov

Após desistir da engenharia, José Carlos dedicou um tempo para refletir sobre o que realmente queria fazer da vida. Ele compreendeu que sua paixão estava em entender o mundo não apenas através de fórmulas e circuitos, mas por meio das histórias e da compreensão das trajetórias humanas. Assim, decidiu cursar História, um campo que combinava perfeitamente com seu desejo de entender o passado e de se conectar com as grandes narrativas que moldaram a sociedade. Porém, José Carlos logo percebeu que trilhar esse novo caminho exigiria sacrifícios e dedicação — e, principalmente, uma forma de custear a faculdade.

Para tornar seu sonho viável, José Carlos aceitou um trabalho como técnico em eletrônica, aproveitando a formação que obtivera. O emprego era no emergente setor de TV por assinatura, uma área promissora e em expansão, que demandava técnicos capacitados para instalar e realizar a manutenção dos novos sistemas de transmissão de TV. Embora não fosse exatamente o que sonhava, José Carlos enxergava na oportunidade uma maneira de financiar seus estudos e, ao mesmo tempo, se manter ativo na área técnica que dominava.

Conciliar o curso de História com o trabalho técnico não era fácil. José Carlos passava o dia inteiro em campo, visitando residências para instalar decodificadores, ajustar cabos e resolver problemas nos sistemas de TV por assinatura. Ao final do expediente, ele ainda precisava se deslocar para a faculdade, onde cursava História no período noturno. Sua vida se dividia entre o mundo técnico durante o dia e o universo acadêmico à noite, repleto de livros, debates e reflexões sobre o passado.

Embora fosse exaustivo e muitas vezes ele se sentisse cansado ao chegar para as aulas, José Carlos sabia que cada dia de trabalho representava um passo a mais em direção ao seu sonho.

Nos primeiros meses, José Carlos enfrentou o cansaço e as longas jornadas com determinação. Ele estudava nos intervalos de almoço, aproveitando ao máximo qualquer tempo livre para revisar as matérias da faculdade. No entanto, longe de ser um sacrifício desgastante, ele se sentia motivado. Cada instalação concluída significava não apenas um salário, mas um apoio concreto ao seu sonho de seguir em frente nos estudos.

Trabalhar na área de TV por assinatura também trouxe algumas lições inesperadas. Em cada visita técnica, José Carlos encontrava pessoas de diferentes origens, com histórias de vida que muitas vezes compartilhavam durante as longas instalações. Curioso e sempre extrovertido, José Carlos aproveitava esses momentos para conversar e entender mais sobre as vivências dos clientes. Para ele, essas conversas eram como “mini aulas” de história e cultura, pois lhe davam uma perspectiva real sobre como o passado e as experiências das pessoas se misturavam na vida cotidiana.

Além disso, o trabalho ajudou José Carlos a desenvolver a habilidade de resolver problemas rapidamente e de se adaptar a situações diversas. Cada instalação era um novo desafio e, com o tempo, ele começou a aplicar essa mentalidade em seus estudos, vendo a história como um campo de pesquisa que também exigia soluções criativas e análise cuidadosa.

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG.

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 33: Crescimento e Laços

12 nov

Conforme os meses passaram, José Carlos começou a perceber que o alojamento era mais do que apenas um lugar onde ele dormia e estudava. Era um ambiente onde crescia como pessoa. A convivência com outros jovens de diferentes partes do país, cada um com seus sonhos e desafios, ampliava sua visão de mundo. Ele aprendeu a lidar com as diferenças, a compartilhar responsabilidades e a valorizar as pequenas vitórias cotidianas, como conseguir consertar um circuito que não funcionava ou finalmente entender uma fórmula complicada.

Os laços criados no alojamento também se fortaleceram ao longo do tempo. As amizades com Ricardo, André e Felipe se tornaram profundas. Eles não eram apenas colegas de quarto; eram irmãos na jornada. Os momentos difíceis, como as semanas de provas e os prazos apertados para os projetos técnicos, foram enfrentados juntos. Quando um caía, os outros o levantavam.

No último ano do curso, quando já eram veteranos no alojamento, José Carlos e seus colegas começaram a perceber o quanto haviam crescido desde o primeiro dia. Aquele quarto pequeno, que antes parecia estranho e desconfortável, agora era um lugar cheio de memórias, risos e histórias. E, embora soubessem que o fim daquela fase estava se aproximando, todos guardavam a certeza de que o alojamento sempre seria lembrado como um dos momentos mais importantes de suas vidas.

José Carlos, ao observar o ambiente ao seu redor, sentia-se grato. A jornada técnica, os desafios do 2º grau e a convivência no alojamento haviam moldado não apenas sua mente, mas também seu caráter. Ele estava pronto para o próximo capítulo de sua vida, sabendo que, ali, tinha construído amizades e aprendido lições que levaria para sempre.

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 31: A Rotina no Alojamento

10 nov

Os primeiros dias no alojamento foram de adaptação. Acordar cedo, seguir a rotina da escola e depois voltar ao quarto era a nova normalidade de José Carlos. O alojamento possuía uma estrutura que, embora simples, atendia às necessidades dos alunos. Havia um refeitório comunitário no térreo, onde todos faziam as refeições. As mesas compridas acomodavam dezenas de estudantes, e o ambiente era sempre animado, com conversas sobre os desafios do curso e os projetos de cada um.

O cardápio não era luxuoso, mas oferecia o básico para sustentar os alunos ao longo do dia: arroz, feijão, carnes, e algumas opções de salada. José Carlos, acostumado à comida caseira da mãe, precisou se adaptar à simplicidade das refeições no alojamento. Ainda assim, ele apreciava a companhia dos colegas. As refeições tornaram-se momentos de descontração, onde o grupo conversava sobre a vida, as aulas e as saudades de casa.

No final de cada dia, depois de longas horas de estudo e prática nos laboratórios da escola, José Carlos e seus colegas voltavam ao alojamento exaustos, mas satisfeitos. O quarto logo se tornou um refúgio para todos eles. Apesar de pequeno, o ambiente começou a ganhar vida com os objetos pessoais que cada um trazia. José Carlos, por exemplo, pendurou na parede um pequeno pôster de um circuito eletrônico, que comprara em uma feira de ciências. Ricardo trouxe uma bola de futebol, e Felipe, sempre bem-humorado, colocou um rádio no quarto, que tocava música durante os momentos de descanso. Os banheiros coletivos ficavam no final do corredor, e isso também foi algo com que José Carlos teve que se acostumar. A privacidade era limitada, e a convivência com dezenas de outros estudantes, às vezes, gerava pequenas tensões, como o horário para o banho e a divisão de tarefas na limpeza do quarto. No entanto, com o tempo, todos aprenderam a se ajustar, e as amizades foram se fortalecendo.

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 30: O Alojamento – O Novo Lar de José Carlos

9 nov

Quando José Carlos recebeu a notícia de que havia sido aceito na Escola Técnica de Eletrônica, uma nova realidade se apresentou: ele teria que deixar sua cidade natal, Seropédica, para morar no alojamento da escola durante os três anos do curso. Para alguém que havia passado toda a vida na pequena cidade, cercado pelo ambiente familiar, essa seria uma das mudanças mais significativas de sua vida.

O alojamento ficava em um prédio anexo à escola, localizado a alguns minutos de caminhada das salas de aula e dos laboratórios. O edifício de três andares era antigo, mas bem conservado, com corredores longos e janelas altas que permitiam a entrada de bastante luz natural. Ao lado, havia um pequeno jardim onde os alunos costumavam se reunir nos momentos de folga. A fachada, pintada de branco, era simples, mas transmitia uma sensação de solidez, de que aquele lugar havia visto gerações de estudantes passarem por suas portas em busca de conhecimento.

No primeiro dia em que chegou, José Carlos foi recebido por um funcionário da escola, o Sr. Amadeu, responsável pelo alojamento. Ele era um homem de meia-idade, de fala tranquila, que orientava os novos alunos com paciência. Ao entregar a chave do quarto a José Carlos, o senhor deu-lhe um sorriso encorajador.

“Seja bem-vindo rapaz. Aqui, você vai aprender muito mais do que eletrônica. Vai aprender a viver por conta própria. Qualquer coisa, estou por perto.”

José Carlos subiu as escadas com sua mochila nas costas e uma mala na mão, sentindo um misto de nervosismo e empolgação. Sabia que aquele alojamento seria seu lar nos próximos três anos, e isso trazia uma mistura de liberdade e responsabilidade. Quando abriu a porta de seu quarto, encontrou um espaço simples, mas funcional. O ambiente era pequeno, com dois beliches de madeira, um armário compartilhado e uma escrivaninha no canto, onde os alunos poderiam estudar. As paredes eram brancas, sem decoração, e o chão de azulejos claros. O espaço parecia austero, mas José Carlos sabia que, com o tempo, ele e seus colegas iriam transformá-lo em algo mais pessoal e acolhedor.

No quarto, José Carlos dividia o espaço com três outros alunos que também estavam iniciando o curso de eletrônica. Ricardo, um rapaz alto e sorridente do interior de Minas Gerais, foi o primeiro a cumprimentá-lo.

“E aí, cara, sou o Ricardo! Parece que seremos colegas de quarto. Também tô um pouco perdido, mas acho que a gente vai se dar bem.”

Os outros dois colegas, André e Felipe, chegaram logo depois. André era tímido e reservado, preferindo ficar em silêncio, enquanto Felipe, sempre com um ar descontraído, logo se enturmou com todos, trazendo um clima leve ao ambiente.

Os quatro rapidamente começaram a organizar o quarto, cada um escolhendo seu beliche e dividindo o espaço no armário. José Carlos percebeu que, apesar da simplicidade do alojamento, seria ali que ele passaria alguns dos momentos mais importantes de sua vida.

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

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Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 27: A Vida Entre Livros e Circuitos

6 nov

No segundo ano do curso, José Carlos já estava mais acostumado à rotina intensa. Ele havia aprendido a organizar melhor seu tempo, conseguindo equilibrar as aulas teóricas do ensino médio com as exigências do curso técnico. Embora muitos colegas reclamassem da carga de trabalho, José Carlos via aquilo como um desafio pessoal. Para ele, o aprendizado não era apenas uma obrigação, mas uma oportunidade de se preparar para um futuro promissor.

As aulas de eletrônica avançaram, e agora José Carlos estava estudando circuitos mais complexos, incluindo sistemas digitais e microcontroladores. Sua mente curiosa estava sempre em busca de novas descobertas. Ele passava horas extras no laboratório da escola, experimentando e testando novos circuitos, muitas vezes ao lado de Thiago, que se tornara seu parceiro de projetos.

“Thiago, olha isso”, José Carlos dizia, excitado ao testar uma nova ideia. “Se conseguirmos integrar esse microcontrolador com o sistema de sensores, podemos automatizar o controle de luzes da casa. Imagina o potencial disso!”

Thiago compartilhava o entusiasmo, e juntos eles começaram a desenvolver pequenos projetos fora do currículo. Um deles foi um protótipo de sistema de alarme caseiro, que utilizava sensores de movimento e controle remoto. Esse projeto chamou a atenção de seus professores, e foi exibido em uma feira de ciências local, onde eles receberam elogios por sua criatividade e execução.

No entanto, a vida de José Carlos não se resumia apenas aos estudos e experimentos. A adolescência também trouxe desafios emocionais e pessoais. O peso das expectativas familiares ainda era uma constante em sua vida. Embora Nivaldo, seu pai, tivesse aceitado a escolha de José Carlos de seguir o caminho da eletrônica, ele ainda demonstrava reservas.

“Você está fazendo algo bom, José Carlos”, dizia seu pai de forma contida. “Mas eu ainda acho que o Exército teria sido uma escolha mais segura.”

Essas palavras sempre ressoavam em José Carlos, mas ele já havia aprendido a lidar com essa pressão. Sabia que seu caminho estava traçado de acordo com suas paixões, e que o futuro que ele buscava dependia de sua dedicação.

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 25: A Última Visita

5 nov

Quando José Carlos já estava prestes a deixar Seropédica, após completar 14 anos, ele fez uma última visita à professora que o alfabetizou. Dona Marcolina, agora já aposentada, vivia em uma casa simples, cheia de livros e memórias. Ao vê-lo entrar, seus olhos brilharam, e o rosto antes severo suavizou-se com um sorriso afetuoso.

“Eu sabia que você voltaria”, disse ela. “Sempre soube que você seria um daqueles que não esquecem de onde vieram.”

José Carlos sentou-se com ela na varanda, onde passaram um bom tempo em silêncio, apenas contemplando as construções que cercavam a cidade. Por fim, ele tirou do bolso um caderno simples, onde havia começado a rascunhar as primeiras páginas de uma história que pretendia escrever. Era sua maneira de agradecer a ela por ter lhe dado as asas para sonhar.

“Quero te mostrar algo, Dona Marcolina”, disse José Carlos, entregando o caderno. “Ainda está no começo, mas espero que um dia se torne algo que valha a pena ser lido.”

Dona Marcolina pegou o caderno com as mãos trêmulas, e um sorriso de orgulho se formou em seu rosto. “Você já está escrevendo sua própria história, José Carlos. E isso é o que importa.”

José Carlos despediu-se de sua mestra com a certeza de que, onde quer que fosse, as palavras o acompanhariam. A cidade poderia ficar para trás, mas as lições de Dona Marcolina estariam sempre com ele, como um farol a iluminar seu caminho.

E assim, com o coração cheio de gratidão, ele partiu para o mundo.

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 20: A Preparação Intensa

30 out

O vestibular para a Escola Técnica não era fácil. O colégio era conhecido por ser altamente competitivo, atraindo estudantes de todo país. As provas envolviam uma combinação de matérias que exigiam tanto raciocínio lógico quanto uma base sólida em ciências e conhecimentos gerais, áreas que José Carlos já dominava, mas sabia que precisaria intensificar seus estudos se quisesse ter chances.

Determinado a passar, José Carlos montou um plano de estudos rigoroso. Dividia seu tempo entre a escola regular e as revisões para o vestibular. Thiago, que também estava estudando para a mesma prova, tornou-se seu companheiro de jornada. Eles passavam horas na biblioteca, alternando entre os livros de eletrônica e as apostilas de matemática avançada. Enquanto os amigos começavam a explorar a adolescência com festas e distrações, José Carlos se isolava cada vez mais em seu mundo de números, textos, circuitos e fórmulas.

Os meses de preparação não foram fáceis. A pressão vinha de todos os lados. Seu pai continuava a questioná-lo sobre o Colégio Militar, sugerindo que a eletrônica poderia ser um caminho instável, enquanto sua mãe, Maria Júlia, fazia o possível para apoiar o filho sem entrar em conflito com Nivaldo. A tensão dentro de casa era constante, e José Carlos sentia o peso de ser o primeiro a querer trilhar um caminho diferente dos valores tradicionais de sua família.

Certa noite, depois de uma discussão mais acalorada com seu pai sobre o futuro, José Carlos foi até o quintal de sua casa e ficou observando as estrelas. Ele pensava sobre o que queria para si mesmo. Sabia que a eletrônica lhe dava a oportunidade de seguir algo que lhe garantisse uma profissão, mas ao mesmo tempo não era exatamente o que ele tinha sonhado. O preço emocional era alto.

“Será que estou fazendo a escolha certa?”, ele se perguntava, olhando para o céu. “Ou estou apenas fugindo do que esperam de mim?”

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 18: Um Sonho a Dois

29 out

Enquanto o conflito entre José Carlos e seu pai crescia, Dona Maria Júlia tornava-se sua maior aliada. Ela começou a passar mais tempo conversando com o filho, encorajando-o a seguir seus próprios sonhos. Aos poucos, ela também compreendia que, embora tivesse casado com um homem que vivia para o Exército, seu filho tinha um destino diferente.

Nas tardes tranquilas em que Nivaldo estava fora, José Carlos e Dona Maria Júlia sentavam na varanda e conversavam sobre as estrelas, sobre os livros que ele lia e sobre a imensidão do mundo lá fora. Maria Júlia, que nunca havia saído de Seropédica, ouvia os sonhos de José Carlos com fascinação, como se através dele ela também pudesse viajar e explorar novos horizontes.

Foi em uma dessas tardes que Dona Maria Júlia, com a voz suave, disse algo que José Carlos jamais esqueceria:

“Filho, a vida é curta demais para viver os sonhos dos outros. Seja fiel a si mesmo, sempre.”

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 11: Reflexões de Um Menino Crescendo

22 out

Ao final da 4ª série, José Carlos já tinha uma visão mais clara do que queria para seu futuro. Embora ainda fosse jovem, seus anos escolares, repletos de influências de professoras como Dona Marcolina, Dona Lúcia, Dona Lurdes, Dona Carmem e Dona Sônia, o ajudaram a construir uma base sólida de conhecimento e autoconfiança. Ele sabia que o caminho seria longo e cheio de desafios, mas também sabia que tinha em si a força e a determinação para segui-lo.

Enquanto a maioria de seus colegas se preparava para a adolescência com uma mistura de excitação e apreensão, José Carlos sentia-se pronto para enfrentar o mundo. Ele sabia que Seropédica, com sua agitação, sempre seria parte de quem ele era. Mas seu coração já ansiava por mais, por algo além dos prédios e fumaça que cercavam sua cidade.

E assim, ao encerrar o ciclo de seus primeiros anos escolares, José Carlos estava pronto para continuar sua jornada, sabendo que, independentemente de onde o destino o levasse, as palavras, os números e as histórias estariam sempre ao seu lado.

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

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Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 10: Amadurecimento e Reflexão na 4ª Série

21 out

Na 4ª série, José Carlos já era visto como um dos alunos mais promissores da escola. Sua dedicação aos estudos e sua habilidade com as palavras o faziam se destacar. No entanto, ao mesmo tempo, ele começou a sentir o peso das expectativas. Seu pai, Nivaldo, cada vez mais pressionava o garoto a seguir uma trajetória militar, enquanto suas professoras e sua mãe o incentivavam a buscar o caminho da educação.

A professora da 4ª série, Dona Sônia, foi uma das maiores influências em sua vida escolar. Ela era uma mulher jovem e cheia de energia, com uma visão ampla sobre o papel da educação. Para ela, a escola não era apenas um lugar onde se aprendia matérias, mas um espaço de formação para a vida. Dona Sônia incentivava seus alunos a pensar criticamente, a questionar o mundo ao redor deles e a buscar o conhecimento por conta própria.

Com ela, José Carlos aprendeu a arte da reflexão. As aulas de redação tornaram-se um espaço onde ele podia explorar não apenas histórias fictícias, mas também suas próprias ideias sobre o mundo. Ele escrevia sobre sua cidade, sobre os sonhos que tinha de viajar, sobre o desejo de escapar do destino que parecia traçado para ele. Dona Sônia lia com atenção cada uma de suas redações e sempre incentivava José Carlos a ir além.

“Você tem um olhar especial sobre o mundo, José Carlos. Nunca perca isso”, ela lhe disse certa vez, entregando-lhe de volta uma redação cheia de elogios. “Escrever é uma maneira de entender quem somos e o que queremos.”

Esse ano foi um ponto de virada para José Carlos. Ele começou a perceber que, embora respeitasse a tradição militar de sua família e amasse seu pai, seus sonhos eram diferentes. A pressão para seguir a carreira militar estava sempre presente, mas ele sabia, no fundo, que seu futuro passava por outros caminhos, talvez longe dos prédios de Seropédica.

João Paulo é professor do CESU (Supletivo) de Santa Rita do Sapucaí, MG

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 3: A Mestra do Começo

15 out

Dona Marcolina era uma mulher de presença marcante, de cabelos grisalhos presos em um coque firme e com o semblante sempre sério. Seus olhos, porém, revelavam uma bondade que muitas vezes se escondia por trás de sua postura rigorosa. Ela era conhecida como a “senhora das letras”, a professora que há décadas alfabetizava as crianças do bairro com uma paixão inabalável pela educação.

José Carlos, com apenas cinco anos, entrou pela primeira vez na sala de Dona Marcolina sentindo uma mistura de fascínio e temor. As paredes estavam cobertas com letras e números, e a lousa, já preenchida com uma caligrafia impecável, parecia um mundo inteiro a ser desvendado. Para José Carlos, aquele ambiente novo era intrigante, quase mágico, mas também assustador. Até então, sua vida havia sido o quintal de casa, os sons da natureza, e o colo acolhedor de sua mãe. A escola era um território desconhecido.

Dona Marcolina, com sua firmeza característica, começou o processo de alfabetização como se estivesse desvendando um mistério. Ela sabia que cada criança trazia consigo um mundo único de perguntas e possibilidades, e via na leitura e na escrita a chave para abrir essas portas. José Carlos, embora pequeno e tímido, logo chamou sua atenção. Ele tinha um olhar atento, curioso, e uma facilidade para aprender que Marcolina soube identificar de imediato.

“Vamos lá, José Carlos”, dizia ela em seu tom firme, mas encorajador. “As letras são como amigos, e cada uma tem uma história. Você vai aprender a conversar com elas.” O processo de alfabetização foi, para José Carlos, uma descoberta gradual e emocionante. Cada nova palavra que ele aprendia parecia expandir seu mundo. Em casa, ele corria para mostrar à mãe as primeiras letras que conseguia juntar e, aos poucos, começou a construir pequenas frases. Dona Maria Júlia que sempre acreditou na educação como o maior presente que poderia dar ao filho, acompanhava com orgulho os primeiros passos de José Carlos no mundo das letras.

Entre Montanhas e Sonhos | Capítulo 2: A Relação com Joice

13 out

Desde que José Carlos conseguia se lembrar, sua irmã Joice sempre esteve ao seu lado. Eles eram inseparáveis na infância, apesar de serem tão diferentes em personalidade. Joice, três anos mais nova, era a luz radiante que iluminava a casa, com seu sorriso fácil, apesar de seu jeito introvertido. José Carlos fazia amizades com facilidade, ria alto, e nunca perdia a oportunidade de contar uma história engraçada ou de engajar todos à sua volta em uma boa conversa. Ele era carismático, o que o tornava popular entre seus colegas, seja na escola ou na vizinhança. Joice tinha uma habilidade única de trazer leveza aos momentos mais pesados da vida de José Carlos. Quando ele se perdia em seus pensamentos sobre o futuro, era Joice quem aparecia com uma piada ou um convite inesperado para uma caminhada pela vizinhança. Ela tinha um jeito natural de lembrar a José Carlos que havia mais na vida do que estudos e responsabilidades, impostos pelo pai.

Na infância, os dois costumavam brincar juntos na pequena casa em que moravam. Com a cidade agitada ao redor, os momentos no quintal eram um refúgio para os irmãos. Criavam mundos imaginários e inventavam jogos que só faziam sentido para eles. Joice, sempre criativa, liderava as brincadeiras, enquanto José Carlos, tentava organizar as regras. Essa dinâmica, que os mantinha unidos quando crianças, era um reflexo de como continuariam se equilibrando à medida que crescessem.

Durante os anos em que José Carlos se dedicava ao curso técnico e passava a maior parte do tempo no alojamento da escola no interior de Minas Gerais, Joice também enfrentava seus próprios desafios. Ela estava no ensino fundamental, lidando com as dificuldades da adolescência, mas, sempre que José Carlos voltava para casa nos períodos de férias, ela o recebia com a mesma alegria de sempre. Os dois se sentavam para conversar, e Joice, como sempre, queria saber de tudo: “E aí, José Carlos, como foram as aulas? O que você aprendeu de novo? E os seus amigos, como estão?”

O que fortalecia ainda mais o relacionamento deles era o respeito mútuo. Mesmo com personalidades tão distintas, eles sempre souberam que podiam contar um com o outro. Joice era o alívio leve que José Carlos precisava para não se afogar nas responsabilidades, enquanto ele era o porto seguro que ela sempre procurava quando se sentia perdida.

Conforme ambos amadureciam, essa cumplicidade só se tornava mais forte. Ainda que o tempo os levasse por caminhos diferentes, o laço entre eles permanecia inquebrável. Joice seguia seu caminho com a mesma determinação e espírito livre que a definiam desde pequena, enquanto José Carlos continuava seu trajeto disciplinado, mas sempre sabendo que, em momentos de dificuldade, sua irmã estaria ali, pronta para lembrá-lo de que a vida é mais do que seguir regras. É também sobre viver com intensidade e paixão, algo que Joice, com seu brilho único, nunca deixava que ele esquecesse.

A obra é fictícia. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos

12 out

Depois de um longo período longe das redes para cuidar da saúde, resolvi, que a partir de hoje, iniciarei a publicação de um romance; um capítulo por dia! Escolhi o dia 12 de outubro para começar essa jornada, pois essa data tem um significado muito especial em minha vida. A cada dia, vocês acompanharão uma nova parte dessa história, cheia de emoção, desafios, momentos marcantes e revelações incríveis. Espero que se encantem e se envolvam com os personagens tanto quanto eu! Fiquem atentos para acompanhar o desenrolar dessa trama que promete surpreender.

A obra é ficcional. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Entre Montanhas e Sonhos

Capítulo 1: Um Novo Horizonte

Em uma cidade cercada por intensa movimentação, nasceu José Carlos. A cidade de Seropédica, localizada na Baixada Fluminense era marcada, já naquela época, pelo caos e a agitação. A cidade parecia viver em uma eterna corrida contra o tempo, com ruas estreitas abarrotadas de carros velhos soltando fumaça e ônibus apinhados de gente. Não havia nada de sereno em Seropédica, e a paisagem urbana era marcada por construções antigas, desgastadas pelo tempo e pelo descaso. O som constante de buzinas, o eco dos motores e o movimento incessante de pessoas indo e vindo faziam parte da rotina.

José Carlos, que havia crescido ali, não se surpreendia mais com o ambiente ao seu redor. Desde cedo, ele havia aprendido que Seropédica era um lugar onde as pessoas viviam com pressa, onde o concreto dominava e os prédios mal cuidados se misturavam com fábricas que lançavam fumaça negra no céu, tingindo o horizonte de um cinza permanente. Não havia espaço para o encanto ou para o deslumbramento. A realidade de Seropédica era dura, implacável.

Seu pai, Nivaldo, era um homem sério e disciplinado, um militar do Exército que trazia a rigidez do quartel para dentro de casa. Ele vestia o uniforme com orgulho e, para ele, a ordem e a honra eram os pilares de uma vida digna. Nivaldo vinha de uma longa linha de militares, e esperava que seu filho seguisse os mesmos passos. José Carlos, por outro lado, não compartilhava dos mesmos sonhos. Mesmo pequeno, ele já nutria uma paixão diferente, algo que nem ele mesmo conseguia explicar, mas que o levava a sonhar com mundos além da agitação que cercava sua cidade.

Dona Maria Júlia, a mãe de José Carlos, era o completo oposto de Nivaldo. Dona de casa dedicada, ela trazia um ar de leveza e tranquilidade ao lar. Sua vida se resumia em cuidar da família, mas, ao contrário de seu marido, não impunha grandes expectativas sobre o filho. Para ela, o importante era que José Carlos fosse feliz. Maria Júlia conhecia o marido como ninguém, sabia que a rigidez que ele trazia era fruto de sua própria criação, de uma vida dura, marcada por poucas oportunidades e uma responsabilidade que desde cedo lhe foi imposta.